Quando falamos de notícias (conteúdo e de que forma é disponibilizado) há uma questão cada vez mais recorrente, à medida que as redacções se vão tornando digitais. Actualmente, qual é a melhor forma de obter informação que nos é mais relevante, directamente nos próprios canais dos meios de comunicação, ou via curadoria de conteúdos seja ela através da nossas redes sociais ou plataformas agregadoras como o Feedly?
A semana passada, a aplicação de mensagens Snapchat, trouxe novas luzes para esta discussão, com o lançamento de um novo recurso chamado Discover. Este novo espaço permite a marcas editoriais como o BuzzFeed, a CNN, a Vice ou a MTV, publicar conteúdos de informação e entretenimento para os mais de 100 milhões de utilizadores do Snapchat. Seguindo o estilo típico desta aplicação, as edições são actualizadas a cada 24 horas, por isso, tal como os conteúdos publicados pelos utilizadores, também estas têm uma data de validade.
Dito isto, na maioria dos aspectos o Discover é marcadamente diferente do que se esperaria de um serviço como o Snapchat. A principal diferença é que em vez de publicar todas as histórias escritas num dia, cada organização recolhe cerca de seis ou sete para ser apresentadas numa determinada edição. Quer assistir a um vídeo de dois minutos de um jaguar a atacar um crocodilo? Veja a ultima edição do National Geographic. Prefere uma sessão fotográfica com celebridades de Hollywood nas férias? Então não perca a reportagem da revista People…
Por trás desta inovação há (claro está) uma estratégia de remuneração suportada por anúncios, no entanto a solução encontrada é coerente e não invasiva. O utilizador pode facilmente passar à frente o conteúdo pago, da mesma forma que o faz com o conteúdo editorial.
Para o Snapchat, Discover é uma forma de integrar publicidade e rentabilizar o seu modelo de negócio, ao mesmo tempo que permite às empresas de media, aproximarem-se de um target mais jovem, que tem cada vez menos o hábito de se conectar com um meio tradicional, para obter notícias.
Curiosamente, como a empresa declarou no lançamento e pode ser lido no seu blogue oficial: “Discover não é social media”. Com esta tomada de posição o Snapchat responde à questão colocada no início. Do ponto de vista do Discover, as equipas editoriais são quem tem melhor informação:
“As redes sociais sugerem-nos o que ler com base no que há de mais recente ou mais popular. A nossa perspectiva é diferente. Contamos com editores e artistas, não cliques e partilhas, para determinar o que é importante.” Snapchat
Isto é efectivamente uma forma inteligente de conter os utilizadores do Snapchat – na sua maioria das Gerações Y e Z – nos limites da própria aplicação. Falamos de uma faixa etária em que a principal fonte de informação são as redes sociais, e cuja confiança nestes canais é já superior aos canais tradicionais dos próprios media. Tal como refere Grace Regan num artigo publicado esta semana no site do The Guardian, havia espaço e uma necessidade clara, para o aparecimento de um fonte de notícias (e entretenimento) que fosse verdadeiramente apelativa aos millenials.
Terá sido esta necessidade que o Snapchat conseguiu, aparentemente, antever e que poderá ser um dos seus trunfos para manter-se como membro do clube das empresas digitais de topo, depois do seu fundador e CEO de 24 anos, Evan Spiegel, ter recusado a oferta de compra pelo Facebook, no valor de 3 mil milhões de dólares.
Independentemente de tudo isso, o lançamento do Discover é já por si um feito interessante de registar, nem que seja porque inaugura uma forma original e bastante apelativa diga-se, de consumir informação e “descobrir” novos conteúdos.